O artista Dilson Cavalcanti, com curadoria de Rose de Paula, apresenta no projeto “arte no metrô” – estação Trianon-MASP, linha verde, São Paulo, de 10 a 31 de outubro, a exposição Monalisas Brasileiras, uma junção de mulheres brasileiras, vivas e não vivas, as quais remeteu à identidade da musa de Leonardo da Vinci, pintor italiano que em 2019 completa quinhentos anos de falecimento.
Monalisa ou Gioconda, quadro pintado entre 1503 e 1506, que consagrou Da Vinci como um dos homens mais importantes do Renascimento, possui um místico de amor e ódio rodeando a famosa tela. Em exposição no Museu do Louvre, na França, a obra atiça o mundo para fotos, ostentações, manifestos de todo tipo de amor e dor. A donna do olhar enigmático e postura indecifrável ronda as imaginações férteis desse planeta. Enfim, meu olharzinho mais sensível, ficou vidrado na exposição pelas escolhas do artista para o título de “Mona brasileira”. Então, lá vamos nós viajarmos junto com Dilson ...
A primeira da fila é Dandara, esposa do Zumbi dos Palmares, lutou pela libertação dos negros junto ao marido. Suicidou-se em 1694, na tomada de Palmares.
A segunda da fila é Chica da Silva, de escrava a mulher dos diamantes, de negra a série televisiva, Chica ganhou destaque internacional por sua história.
A terceira escolhida foi a Princesa Isabel, filha do imperador D. Pedro II, nascida no Brasil e reconhecida por promover a abolição dos escravos e assinar a Lei Áurea em 1888.
A quarta donna é Chiquinha Gonzaga, compositora, instrumentista e maestrina brasileira, ícone do piano e marchinhas de carnaval.
A quinta da fila é Tarsila do Amaral, brasileira representante da arte pelo mundo, com seu filho “Abaporu” (famoso quadro pintado por ela em 1928) e outras tantas artes. Tarsila foi uma das
responsáveis pela organização Semana da Arte Moderna de 1922, em São Paulo.
A sexta Gioconda é Carmen Miranda, portuguesa naturalizada brasileira, ficou conhecida mundialmente por sua voz, suas canções e as bananas na cabeça.
A sétima brasileira escolhida é Santa Dulce dos Pobres, canonizada no último dia 13; conhecida como Irmã Dulce, reconhecida por sua bondade, sua vocação em auxiliar os mais pobres e necessitados. Uma vida dedicada à missão iniciada por seu pai e sacramentada na vida religiosa.
A oitava da fila é Leila Diniz – interessante a ordem que elas foram colocadas: saímos de uma devota a vida cristã e passamos para uma mulher considerada “atrevidinha” no seu tempo. Em plena ditadura militar, a atriz falava sobre amor livre e emancipação feminina e posava de biquíni estando grávida.
A nona Monalisa é Hebe Camargo, apresentadora de TV, consagrada por sua simpatia, seu sorriso e sua espontaneidade.
A décima Gioconda ficou para Zilda Arns Neumann, reconhecida por sua devoção humanitária. Formada médica pediatra contribuiu e muito para a redução da mortalidade infantil no Brasil. Morreu no Haiti, num terremoto em 2010.
A décima primeira mulher na lista do artista é a cantora Elza Soares, eleita, em 2007, pela BBC de Londres como a cantora brasileira do milênio, tem o dom de inovar e se fazer presente.
A décima segunda posição ficou com a também cantora Rita Lee, figura conhecida no Brasil por sua inteligência e despojamento. Começou com o rock e flertou com outros gêneros musicais, nacionais e internacionais.
A décima terceira e última da fila é Maria da Penha, sim, a idealizadora da Lei Maria da Penha. Farmacêutica, lutou pela condenação de seu agressor, culminando pelo movimento de defesa dos direitos das mulheres, principalmente no tocante à violência doméstica.
Interessante essa mistura de mulheres diferentes, muito diferentes e unidas por algumas características – a autenticidade (unânime!), a coragem em ser e fazer o diferente, a luta pelo que acreditam ou acreditavam, e principalmente, o poder pessoal. Daí eu entendo o nome da exposição – Monalisas Brasileiras – sim! A mais famosa e mais enigmática retratada no mundo tem um poder pessoal só dela, todos se curvam diante do seu retrato. E todos nos curvamos diante das escolhidas brasileiras, cada uma no seu “quadrado”.
Vale a pena perder uns minutinhos na correria do metrô e observar essas damas, rever suas histórias e entender que isso é a arte: um ponto de vista de cada um.
“Monalisas Brasileiras” – mulheres à frente do seu tempo. Estação Trianon-MASP, de 10 a 31 de outubro.