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Publicado em 26/06/2020
QUANDO MINHA CASA VIROU ESCOLA
Por Dr. Jean Rafael
Minha família é composta por mim, minha esposa (a médica pediatra Mirella Andion), por duas filhas (Marisol e Aurora) e um filho mais velho (João Rafael). A pandemia chegou e, com ela, novas adaptações para as crianças também chegaram, como não ir à escola e acordar mais tarde. Todos os dias passaram a causar nas crianças a sensação de final de semana e ficamos sem uma rotina diária. Além disso, meus filhos estão em isolamento social e eu e minha esposa continuamos trabalhando, então, tudo o que eles podiam fazer é comer e dormir. A escola dos meus filhos adiantou as férias do meio do ano, depois as férias do final do ano e tivemos antecipação de feriados por decretos, mas fomos informados que, para dar conta do ano letivo e se adaptar à esta situação real, as aulas estão retornando. Só que elas vieram com uma novidade: a aula online. Confesso que fiquei feliz ao saber que meus filhos retomariam uma certa agenda diária e o contato com os coleguinhas - mesmo que a distância, sei do impacto positivo que isso resulta na saúde emocional deles.
O que eu não esperava era a série de desafios que iria se apresentar em nossa casa, que agora seria adaptada para receber a escola durante a semana.
Como assim?
Receber a escola?
Como pode isso? Pois bem, começamos a quebrar a cabeça, uma vez que três crianças de turmas diferentes necessitariam de locais separados para manter a concentração, ou seja, teríamos que disponibilizar três aparelhos diferentes, e em casa possuíamos apenas um computador. Partimos para os celulares, que ficaram a cargo dos mais velhos.
Quando achávamos que tudo estava resolvido, veio o problema do sinal da Internet que, com o uso simultâneo dos três, não deu muito certo.
E depois de mais este problema resolvido, apareceram as reclamações por parte das crianças:
Por que eu tenho que usar uniforme se não vou à escola?
Tem hora que não entendo nada, todos querem falar ao mesmo tempo!
Por que eu tenho que aparecer na câmera de vídeo?, Tenho vergonha!
Por que este aplicativo é tão difícil de mexer?
As reclamações se acumulam dia após dia e as adaptações estão sendo feitas com as crianças evoluindo com esta nova forma de estudar já que, neste momento, realmente foi a única forma de equalizar o caos gerado pela pandemia da Covid-19.
Como a mais nova não conseguia acompanhar as aulas, eu passei a estudar junto com ela, e foi aí que me questionei internamente sobre o trabalho do docente, que também estava passando por uma mudança drástica de adaptação e superação para muitos que não apreciavam este tipo de trabalho e para outros que até sentiam repulsa por esta modalidade.
Percebi, então, que estava diante de uma quebra de paradigmas muito intensa... Imagine você, como um professor que nunca deu aula em vídeo, ter que, em apenas um mês, conhecer plataformas e passar a transmitir conhecimento por elas e, o principal desafio: guiar uma turma (ou várias turmas) de alunos pelo sistema online tirando suas dúvidas e percebendo que alguns alunos, por exemplo, não estavam atentos ao que estava sendo passado. Realmente, são inúmeros os desafios, mas já me pergunto se depois que tudo isso passar nossos filhos não vão nos questionar:
Por que que tenho que ir à escola se posso estudar em casa e realizar as tarefas e as provas daqui?
Você sabia que eu rendia muito mais quando era online, pois tinha mais tempo com vocês e era mais feliz?
Para os professores, imagino, ficará outra dúvida minha: será que eles não perceberão que ganhavam mais tempo e eram mais efetivos usando este sistema online?
A possibilidade de entrar em um mercado diferente do qual estamos acostumados e empreender, com certeza, irá despertar a curiosidade de alguns, que se perguntarão:
Se eu der uma aula de Matemática e replicá-la por meio de uma plataforma para o País inteiro, quanto eu ganharia em uma hora de trabalho?
Entre tantas perguntas e possibilidades, avançamos frente à pandemia com novos aprendizados e com a esperança de um futuro onde encontramos as respostas para tudo o que estamos vivenciando. Por enquanto, é seguir adiante para depois analisarmos e compreendermos quais os caminhos que devemos seguir.
O palestrante Jean Rafael é médico cirurgião geral com residência médica pelo Hospital Universitário de Alagoas Professor Alberto Antunes. É professor do curso de Medicina da Ufal – Universidade Federal de Alagoas - Campus Arapiraca e mestre coordenador da disciplina Saúde, Ciência e Espiritualidade. É pós-graduado em Ensino na Saúde pelo Hospital Sírio Libanês, em Auditoria de Sistemas de Saúde pela Faculdade Estácio de Sá do Rio de Janeiro e em Psicoterapia Transpessoal pelo Núcleo de Expansão da Consciência LUMEM. Possui certificação em Gerenciamento do Stress (ISMA – BR) e é treinador comportamental formado pelo IFT. Foi ganhador do Melhor Projeto de Recursos Humanos da Secretaria de Saúde do Estado de Alagoas em 2017. É autor do livro “A ciência da gratidão – Como prevenir as doenças da mente e aplicar o gerenciamento do estresse” (Literare Books International – 2019).
Redação: Dr. Jean Rafael
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