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Publicado em 23/05/2017



O PERCURSO DA ALIMENTAÇÃO HUMANA

Você já parou para pensar sobre o atual modismo na área da gastronomia? 

Já reparou na profusão de revistas, canais de tevê, blogs e postagens na internet que tratam do assunto? São milhares de preparações e imagens de comidas, todas veiculadas para satisfazer os paladares mais diversos e para impressionar os amantes da culinária. 

E você já reparou que, paralelamente às receitas e competições gastronômicas, hoje em dia também é veiculada uma infinidade de dietas para corrigir distúrbios de saúde?

Pense comigo: qual a relação desses dois fenômenos de mídia com a nutrição do ser humano?

Vamos aos fatos: uma pesquisa do Ministério da Saúde revela que no Brasil, em 2014, já havia um predomínio de 50% de pessoas com sobrepeso, 17.5% de obesas, 6.9% com diabetes e 24,1% com hipertensão.
[Fonte: Portal da Saúde]

Especialistas afirmam que esses números são, em grande parte, provocados pelo enfraquecimento dos padrões alimentares tradicionais e uma supervalorização do paladar em detrimento da nutrição. 

Também é fato comprovado que a alimentação inadequada vem aumentando, em todo o mundo, os índices das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (as DCNTs). Entre essas doenças estão, além da obesidade, do diabetes e da hipertensão, a dislipidemia. Esta última é caracterizada pelo aumento anormal da taxa de lipídios (gordura) no sangue e representa um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

O que temos, então, atualmente? 

Ao lado de uma exacerbação de estímulos ao sentido do paladar, ocorre um grande distanciamento da função básica da alimentação, que é a de suprir as necessidades nutricionais do homem.

Precisamos retomar esse conceito de nutrição como função básica da alimentação humana. É natural, nasceu com o homem e é seu principal atributo. É o que lhe permite, assim como a todos os animais, ingerir alimentos que lhe proporcionem os nutrientes necessários para o desenvolvimento e manutenção de seu organismo.

Vamos dar um passeio pelo desenvolvimento da alimentação humana.


De Volta às Origens 

No começo, o homem comia o que conseguisse caçar e mudava sua “residência” em função da maior ou menor possibilidade de encontrar animais para abater e se alimentar, no dia a dia.

À medida que percebeu que podia domesticar animais e cultivar plantas comestíveis, o ser humano foi se tornando menos nômade e passou a se fixar em torno de ambientes favoráveis à sua nutrição. 

Tal sistema começou a gerar abundância de determinados alimentos e muita curiosidade no homem em complementar sua dieta com nutrientes que não tinha no seu local ou que não podia produzir.

E assim nasceu o comércio de alimentos. 

Ao longo da história, a figura do comerciante manteve-se nômade para satisfazer as necessidades dos que se fixavam a terra. Ele não só levava aos grupos fixados aquilo que lhes faltava como introduzia novidades para assim incrementar o seu negócio. (Alguma semelhança com as atuais indústrias alimentícias?)

Foi nesse momento que surgiu a necessidade de conservar os alimentos. Tanto aqueles que eram transportados, como aqueles que o homem precisava estocar devido à abundância de sua produção local, para garantir a sobrevivência do grupo em períodos de escassez, em invernos ou secas rigorosos.

Os primeiros elementos utilizados para conservar alimentos foram o calor do sol, o fogo e o gelo (em regiões em que as temperaturas eram mais baixas). 

Estudos arqueológicos em cavernas da China supõem que o homem de Pequim, entre 250 mil e 500 mil anos atrás, já utilizava o fogo não só para se aquecer como também para esquentar ou cozinhar carnes e vegetais crus. 

Em outra etapa de seu desenvolvimento, o ser humano percebeu que a associação de certas plantas aromáticas aos alimentos podia exaltar o sabor deles, contribuir para a sua conservação e permitir uma melhor e mais saudável assimilação por parte do corpo. Assim, ele descobriu as especiarias.

Muitas guerras se fizeram pela posse de especiarias, que eram raras para determinados grupos. Elas passaram a significar poder para quem dominasse a administração desses recursos. Por exemplo, a busca por especiarias foi um dos fatores que contribuíram para a queda do Império Romano.  Outro exemplo: quando a Europa partiu para os Descobrimentos Marítimos tinha como objetivo assumir o controle da rota das especiarias. 

Com o passar do tempo, novas técnicas de conservação de alimentos foram sendo descobertas, como a pasteurização, a liofilização e a adição de conservantes naturais (sal, açúcar, azeite, entre outros). 

Atualmente, chegamos a um patamar em que as tecnologias utilizadas pelas indústrias alimentícias vão muito além da conservação.  Por isso é que temos a nossa disposição alimentos que agregam praticidade e satisfação, mas não necessariamente a função de suprir as necessidades nutricionais do ser humano.

O fato é que a grande maioria dos alimentos que consumimos hoje em dia passa por algum tipo de processamento, para tornar esses produtos comestíveis, garantir sua segurança alimentar e conservá-los por um determinado período. 

Os ingredientes e métodos usados na fabricação de alimentos processados alteram de modo desfavorável a composição nutricional dos alimentos dos quais derivam. Além disso, são desbalanceados, contêm sal, açúcar e gordura demais e vitaminas de menos.

Mas vale lembrar que às vezes é indispensável o processamento de um determinado alimento, para garantir que ele não provocará intoxicação alimentar ao ser consumido. Um exemplo é o processamento do palmito, que precisa ser conservado em salmoura acidificada (de pH abaixo de 4,5), com adição de conservantes e passar por tratamento térmico (esterilização, à temperatura de 121°C), para eliminar os esporos da bactéria Clostridium botulinum. Porque essa bactéria é produtora de uma neurotoxina que, se não tratada rapidamente, pode ser letal.


O que fazer agora?

Compreender que o percurso histórico do ser humano criou uma grave defasagem entre a tecnologia dos alimentos e a nutrição já é um grande passo.

É um conhecimento transformador: torna você alerta para escolher o que comprar e para resistir às propagandas enganosas.

Tenha em mente que a alimentação é um processo de adquirir produtos que proporcionem os nutrientes necessários para o desenvolvimento e a manutenção de seu organismo e o de sua família.

Concentre-se em obter bons hábitos alimentares e leia os rótulos atentamente.

Evite os produtos processados e rejeite os ultraprocessados, como biscoitos, bolachas, sorvete, guloseimas em geral, pratos prontos congelados, salgadinhos, refrescos e refrigerantes.

Considere um “mantra nutricional” poderoso: O ideal é descascar mais e desembalar menos!

Uma boa ideia é, quando for às compras, fazer para si mesmo quatro perguntas para eleger os produtos que farão parte de sua alimentação:


1. Trará algum benefício a minha saúde e à saúde da minha família?

2. É mesmo um alimento ou trata-se de um fake ultraprocessado?

3. Está na lista dos que contêm excesso de sal, açúcar ou gordura?

4. Contém algum aditivo que pode prejudicar minha saúde ou a saúde da minha família? 



PARA SABER MAIS

O Ministério da Saúde tem disponível uma publicação importante para quem deseja ampliar seus conhecimentos sobre nutrição.   Chama-se Guia Alimentar para a População Brasileira

É um documento oficial, lançado em 2014, mas foi atualizado em 2016.

Serve como base para elaboração de políticas públicas e ações governamentais na área de Alimentação e Nutrição, mas também dá suporte para o trabalho de nutricionistas e para os cidadãos comuns que desejam incrementar sua saúde e qualidade de vida. Ou seja, é para todos.

Esse Guia Alimentar contém muitas e variadas informações, de compreensão fácil, sem termos técnicos amedrontadores, e exibe uma estética agradável, com ilustrações bonitas e esclarecedoras. 

É bastante prático. Além de orientar sobre qual tipo de alimento comer, a publicação traz informações de como preparar a refeição e sugestões para enfrentar os obstáculos do cotidiano para manter um padrão alimentar saudável, como falta de tempo e inabilidade culinária.

Infelizmente, sabe-se que grande parte da população brasileira sequer ouviu falar dessa ferramenta poderosíssima, muito bem elaborada e de projeção internacional, apontada como “uma das melhores diretrizes nutricionais do mundo”. 

Procure conhecê-lo. Tenho certeza que você vai olhar o hábito de se alimentar de outra forma. E dissemine o conhecimento. Faça que os outros ao seu redor também tenham acesso a essa riqueza.





Marília Muraro
Colunista Gastromania
marilia.escrita@gmail.com 




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