Emma

Publicado em 19/10/2022

O FILME EM QUE O FINAL É FELIZ

Na plataforma Netflix, Emma é aquele filme que faz a gente acreditar que a vida é boa e que no final, tudo dá certo.

Do ano de 2020, Emma está na Netflix brasileira desde catorze de julho último.

A história é simples: em terras de nobreza, vestidos longos e luz de velas, Emma é uma bonita jovem, rica e inteligente, cuja vida se passa no seu lindo palacete, cercada de empregados, belas vestimentas e chapéus. Jardim maravilhoso e vizinhos amigáveis. No tempo em que dar um pato de presente era fino. E os bailes tinham dancinhas coordenadas. Vida pacata e previsível.

Emma se acha uma mulher esperta e decidida, principalmente no quesito relacionamento. Ela arranja e desarranja casais conforme sua vontade, até se ver apaixonada por um conhecido. Observar é fácil, viver uma situação é um pouco mais difícil. E tudo começa a mudar na vida de Emma. Até aí uma história água com açúcar. Bingo!

A vida água com açúcar. Onde se perdeu a concepção de que a vida pode ser simples, pacata e previsível? Quando a gente precisou de fogos de artifício diariamente para estar satisfeito? Que dia se instituiu a vida complexa? Em qual momento o vazio existencial entrou no meu e no seu peito?

Dia desses questionei uma paciente pelo que ela procura num relacionamento e, rapidamente ela me respondeu que arroz com feijão. O básico que alimenta, não engorda e não gera doenças. Num mundo de lasanha, churrasco e risoto, optar pelo básico parece contraditório. Mas comidas diferentes são boas para serem degustadas vez em quando, por isso se tornam tão apetitosas. Para a maior parte dos dias, o básico supre. Resposta boa.

A correria da vida, mais a necessidade material que nunca acaba, mais a pandemia, mais a facilidade na internet, mais a liberdade de ser o que e quem você quiser, fez com que a gente mergulhasse num poço bem fundo, e a gente fica o tempo todo se debatendo para sobreviver e sair desse lugar.

E assim é a vida. Perseguimos a felicidade incessantemente, e quando paramos com a caça, ela se revela nas conquistas e nos simples atos diários.

Há quem se realize nas montanhas e há quem nem olhe pra cima. Há quem viva na adrenalina e há os lentos por natureza. Há os raízes e os nutelas. Há quem seja nômade digital e há os que ainda estão em quarentena. Há quem morra de amor e há quem só esteja vivo por ele.

E, no final, todos foram felizes para sempre. Emma relutou para ser feliz, mas cedeu ao amor. Quando é o final pra gente entender que tudo será bom e o vazio chegará ao fim?

Quando a gente entender que a vida é para ser vivida e que felicidade é um conceito que não existe. Portanto, se você tiver momentos alegres, sua vida já é um filme.

E sobre o amor, contente-se com seu próprio amor. Já basta.

Redação:

Silvia Delforno, psicanalista.

"Ajudando você a viver de forma mais leve, com mais plenitude e realizações".

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